Fatores que influenciam na incidência do câncer na comunidade indígena

O cancro é um problema de saúde pública mundial e, infelizmente, a incidência de câncer continua a aumentar em todos os países. No Brasil, o câncer tem apresentado uma enorme magnitude com o crescente número de casos. A propósito, estima-se para o biênio 2018-2019, a ocorrência de 600 mil casos novos de câncer, para cada ano, conforme pesquisa do Instituto Nacional do Câncer (INCA).
É importante ressaltar que toda a população está exposta aos fatores de risco do câncer, independentemente da idade, gênero ou etnia. Porém, o alcance e o impacto desta doença sobre as populações indígenas ainda são pouco conhecidos e debatidos no Brasil.
 Imagem: Ministério da Saúde – Saúde Indígena

Atualmente, estima-se que existam hoje no mundo pelo menos 370 milhões de índios. No Brasil, a população indígena segundo os dados do Censo IBGE 2010 era de 896.917 mil indígenas, sendo que a maioria estava concentrada na região Norte do país. Dos 896.917, 324.834 são domiciliados em zona urbana e 572.083 em áreas rurais.
Esses povos estão distribuídos por todo o território nacional, e se dividem em várias etnias, com características sociais, culturais e econômicas distintas. Cada povo indígena tem suas próprias concepções, valores e formas próprias de vivenciar a saúde e a doença. Por esse motivo, é importante o empenho e dedicação dos profissionais de saúde para compreender as especificidades culturais e ajudá-los no quesito saúde-doença. 
Imagem: Ministério da Saúde – Saúde Indígena


Obviamente, hoje conhecemos bem mais sobre a saúde–doença dos índios se comparado às evidências disponíveis no passado. Mas ainda assim, a política de saúde para os povos indígenas é uma questão delicada e problemática, com poucas informações detalhadas e confiáveis, principalmente relativas as doenças crônicas, ao exemplo do câncer.
Historicamente, no perfil de morbidade e mortalidade dos povos indígenas no Brasil predominavam as doenças infecciosas e parasitárias. Entretanto, a inclusão de novos hábitos culturais (como por exemplo, a transição nutricional com o aumento da ingestão de produtos industrializados) e urbanização contribuíram para o aumento da incidência das doenças crônicas degenerativas como o câncer. Apesar da escassez de dados de prevalência de câncer em populações indígenas, alguns estudos referentes ao perfil clínico e epidemiológico do câncer entre os índios do estado do Pará, apontou um predomínio entre as mulheres indígenas, revelando que o câncer de colo uterino foi a neoplasia maligna mais diagnosticada nesta população. Uma provável explicação para tais resultados pode estar relacionada ao início precoce da atividade sexual, multiplicidade de parceiros e doenças sexualmente transmissíveis como a infecção por Papilomavírus Humano (HPV), somando-se a isso ao rastreamento tardio da doença.
Os dados refletem a inexistência ou a pouca eficiência dos programas de rastreamento e atenção primária à saúde dessa classe, pois frequentemente o câncer apresenta-se em estágio avançado no momento do diagnóstico. Também é possível notar a falta de informação sobre a doença (detecção preco­ce, tratamento e formas de prevenção) e a disparidade no acesso a serviços específicos de saúde (principalmente pela dificuldade geográfica e socioeconômica inerente a essa população).
 Imagem: Ministério da Saúde – Saúde Indígena

Embora os pequenos avanços na atenção à saúde indígena nos últimos anos, a partir da Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas sejam inegáveis, ainda se mantêm diversas fragilidades que exigem adequação, aprimoramento e necessidade de investimentos e melhor estruturação. Entre os desafios, destacam-se: a otimização dos serviços básicos de saúde locais e a incorporação de pessoal qualificado, culturalmente competente e sensível às crenças e necessidades dos povos indígenas. O respeito a seus costumes e seus tratamentos tradicionais exigem um perfil diferenciado do profissional de saúde que atenderá essa população tão rica em costumes e, infelizmente, ainda tão vulnerável em alguns aspectos.
Finalmente, é importante destacar que a população indígena deve ser assistida de forma integral e dentro dos princípios que regem o Sistema Único de Saúde (SUS), tendo acessibilidade aos serviços de saúde desde a atenção primária até o nível de assistência terciária, respeitando sempre os aspectos culturais. Ademais, é relevante investir em materiais didáticos e informativos específicos, no idioma das etnias e, principalmente, com motivos contextualizados para a educação em saúde da população indígena.

Por Rolim F.P.S.S.; Novaes S, S.

  • REFERÊNCIAS



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